sábado, 30 de maio de 2009

Como Declamar Drumond

http://www.youtube.com/watch?v=QNR63LIb1dc

sábado, 16 de maio de 2009

O Tempo e o Marginal

O tempo é um marginal louco e doente
Preso em si próprio e sem temor
Gosta de folias e fode com seus parentes
E não goza, talvez seja tântrico
E perdido no tempo
E feio e fédido
E imprório para o horário
O tempo é um marginal vadío e seco
Castigado por ele próprio
O coitado nem teve tempo
E não pensa, acho que ele só é
E acho que ele é só
E sem tempo
Eu sou um marginal e seco e sem tempo
Talvez um pouco mais tarde
Talvez de novo
Quero ser o tempo quando crescer
E quando crescer acabará todos os tempos
Não consigo mais ouví-lo
Nem há músicas no meu pensamento
E não há gasolina suficiente para chegarmos ao futuro
Se é que ele existe
E talvez não exista para mim e nem para ninguém
E nem para o próprio tempo
Deve ter se cansado
Não ouve rock’n roll
E não dança com as garotas
Talvez o tempo seja um animal tímido
E chato e depressivo e não vai ao psiquiatra
E não toma drogas e não bebe cervejas
Talvez nem tenha um saca-rolha na mochila
Se é que ele usa saca-rolhas
Ou mochilas
Meu pai é um marginal, mas não é o tempo
Fode sem preservativos com pessoas que não são nossos parentes
Vai pegar HIV
Se o tempo tivesse um doença ele não aguentaria
Nem mesmo se fosse uma diarréia, uma infecção de cachorro quente
O tempo morreria e estaríamos todos sem tempo
Sem o marghinal vadío e seco
E sem agenda e sem calendário e sem relógio
E sem tempo

(Cátia Rodrigues)

Um Fechar de Olhos

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Transcrição de música de órgão

A flor na jarra de manteiga de cacau que estava antes na cozinha, contorcida para chegar até a luz, a porta do armário aberta porque o usei há pouco, continuou gentilmente aberta esperando-me, seu dono.

Comecei a sentir minha miséria no catre sobre o chão, escutando a música, minha miséria, é por isso que eu quero cantar.

O quarto fechou-se por cima de mim, esperava a presença do Criador, vi minhas paredes pintadas de cinza e o forro, elas contêm meu quarto, ele me contém e o céu contém meu jardim.

Abro minha porta, o pé da trepadeira subiu pela pilastra do chalé, as folhas da noite lá onde o dia as havia deixado, as cabeças animais das flores lá onde haviam aparecido para pensar ao sol.

Posso trazer as palavras de volta? Pensar na transcrição, isso embaçará meu olho mental aberto?

A suave busca do crescimento, o gracioso desejo de existir das flores, meu quase êxtase de existir no meio delas.

O privilégio de testemunhar minha própria existência - você também deve procurar o sol...

Meus livros empilhados à minha frente para o meu uso aguardando no espaço onde os coloquei, eles não desapareceram, o tempo deixou seus restos e qualidades para que eu os usasse - minhas palavras empilhadas, meus textos, meus manuscritos, meus amores.

Tive um lampejo de claridade, vi o sentimento no coração das coisas, saí para o jardim chorando.

Vi as flores vermelhas na luz da noite, o sol que se foi, todas elas cresceram em um momento e estavam aguardando paradas no tempo para que o sol do dia viesse e lhes desse...

Flores que num sonho ao anoitecer eu reguei fielmente sem perceber o quanto as amava.

Estou tão só na minha glória - exceto por elas também lá fora - olhei para cima - essas inflorescências dos arbustos vermelhos acenando e despontando na janela à espera em cego amor, suas folhas também sentem esperança e estão com sua parte de cima virada para o céu para receber - toda a criação aberta para receber - até a terra achatada.

A música desce, assim como desce o pesado ramo cheio de flores, pois assim tem que ser, para continuar vivendo, para continuar até a última gota de alegria.

O mundo conhece o amor no seu seio assim como na flor, o solitário mundo sofredor.

O pai é piedoso.

O soquete da lâmpada está cruelmente atarrachado ao forro, desde que a casa foi construída, para receber um conector bem ligado nela e que agora está ligado também à minha vitrola...

A porta do armário está aberta para mim, lá onde a deixei, e já que a deixei aberta, continuou graciosamente aberta.

A cozinha não tem porta, o buraco que está lá me aceitará se eu quiser entrar na cozinha.

Lembro-me da primeira fez em que fui fodido, HP graciosamente me desvirginou, eu estava no cais de Provincetown, 23 anos, alegre, exaltado com a esperança do Pai, a porta do ventre estava aberta para aceitar-me se eu quisesse entrar.

Há tomadas de eletricidade ainda não usadas por toda a casa, se eu precisar delas.

A porta da cozinha está aberta para deixar o ar entrar...

O telefone - é triste contar - largado no chão - não tenho dinheiro para ligá-lo.

Quero que as pessoas se inclinem ao ver-me e digam que ele recebeu o dom da poesia, ele viu a presença do Criador.

E o Criador me deu um instante da sua presença para satisfazer meu desejo, para que eu não me desiluda no meu anseio de conhecê-lo.

Allen Ginsberg

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Vinil 3D

http://www.youtube.com/watch?v=nGT9CA64aUE

O Vinil 3D é um projeto de difusão cultural com enfoque em disotecagem de música alternativa, e que mescla apresentações de performances de literatura e artes cênicas, dando ênfase a mescla das diferentes linguagens artísticas.
Em dois anos de atividades, já fizemos diverso tipos de decorações e exposições de artes visuais que interagem com o próprio cenário do evento.

Equipe

Produção: Fábio Jota, Rafael Trevigno, Adolar Barbosa, Luisinho
Discotecagem e seleção de atrações: Fábio Jota e Luisinho
Financeiro: Adolar Barbosa
Divulgação e comunicação: Rafael Trevigno

Comportamento Kamikaze Parte I

http://www.youtube.com/watch?v=Ik2OR8BmFJ0

Comportamento Kamikaze parte II

http://www.youtube.com/watch?v=YOI8xkrH640

O vídeo de ficção "Comportamento Kamikaze" dirigido por Gilbero Caetano e produzido pela Cavalo Marinho Audiovisual, foi um dos cinco trabalhos selecionados pelo Mapa Cultural Paulista em 2005.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Poemas Selecionados

Protesto em nu sustenido

Satisfação em revê-los!
À minha direita, uma Avenida Paulista cansada
com cobertura de pederastia nominal
e nádegas sorridentes expostas a olho nu.

Verbos e gritos sádicos protestam:
- Não me deixem sozinho!

Fardas e castigos comerciais revidam,
Impedindo a rápida progressão.
Do protesto?

Augusto de Andrade

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Carta III

Tudo anda muito agradável.
Estou pirado e mesmo assim continuo vivo,
um pouco abalado...
Gesticulando falsos movimentos
em posições retardadas
capazes de sacudir o tempo,
não sem virtudes, mas cheio de varizes.

O momento é prosaico
medido em preces falhas
para quem não sabe rezar.
Mesmo assim eu beijo,
talvez um colapso, talvez mais lento...

- Espere um pouco!
Não grite enquanto estou surdo,
ainda não posso atender.
Há quatro grandes blocos ao meu redor
e nenhum deles consegue pensar.
Será que não sabem?

Não vou tentar novamente,
os gestos estão se esgotando.
- Martírios pesados,
vão todos a merda!

(Cátia Rodrigues)